terça-feira, 14 de setembro de 2010

A POLÍTICA DO TEMPLO DE SALOMÃO E A CRISE ÉTICA DA IGREJA ATUAL

Recentemente assisti uma reportagem na Record sobre a Construção de uma réplica exata do Templo de Salomão em São Paulo como sendo a possibilidade de um grande reavivamento da fé evangélica em todo o mundo. Paralelamente acompanho as crises marketerias entre Pastores e Políticos, em que o nome de Jesus e Satanás são usados para propagar campanhas políticas. E por fim os Mega-Eventos evangélicos, Shows de música Góspel, Congressos e mais Congressos em que o povo de Deus, cegamente confia sua salvação. Qual a ligação desses eventos? Será que representam sinais de uma grande crise ética na Igreja de Cristo?

Para começar essa reflexão vejamos o que é ética:

Numa de suas definições mais simplórias, a ética é a norma de certo e errado. Todavia essa definição não se aplica bem à ética, pois os conceitos de certo e errado são regulados pela moral, dessa forma a ÉTICA por sua vez é o estudo da atividade humana com relação a seu fim ultimo, que é a realização plena da humanidade .

Moral: conjunto de princípios, crenças, regras que orientam o comportamento das pessoas nas diversas sociedades. Ética: reflexão crítica sobre a moral e sua relação com o fim último da sociedade. (fim último= Objetivo Ideal).

Para entender o conceito de ética baseado no ideal proponho o seguinte quadro sobre a ética e sua relação com o Sagrado e o Profano:



O que esse quadro revela? Nada além do distanciamento ético da Igreja em relação a Jesus e ao cristianismo primitivo. Será que Jesus aprovaria uma Igreja que vive para o Templo? Que tem na prática dos rituais eclesiásticos e de purificação do mundo o centro de sua fé? Será que a Igreja atual (principalmente seus líderes) preocupados em preparar crentes para atender às necessidades da Igreja esqueceram de preparar os crentes para as necessidades de Cristo?

A infeliz realidade ética é que a Igreja atual não forma servos de Cristo, mas servos do Templo. A reconstrução do Templo de Salomão é a prova real de que a Igreja atual não sabe a que espírito pertence (Lc 9:54-55), pois o Templo de Salomão foi uma das instituições que mais oprimiu o povo hebreu. O Templo era usado como forma de opressão e arrecadação. Não era um local de culto e adoração, mas de manipulação e opressão religiosa.

A autoridade do rei provinha do Templo; a força do exército provinha do templo; os códigos legais provinham do templo; as grandes decisões dependiam do Templo; com toda essa representatividade não demorou para que a economia fosse dominada pelo templo. As alianças políticas e econômicas eram efetivadas no templo, Gn 31:53; tornou-se legislador da economia Nm 31:12; Dt 20:14; orientador da prosperidade Ml 3:10; da produção e agricultura Rt 1:6; Ez 8:14; restauração de relações comerciais Lv 6: 1-7; regulamentava o serviço bancário Dt 23: 19-20; 24:10-13; regulamentava os direitos do trabalhador Dt 24:14-15; regulamentava a contribuição social e sustento do templo pelo dízimo Dt 26: 12- 14; serviço cartorário de guarda das escrituras, casa do Tesouro Ml 3:10; Depósito do tesouro real 1Rs 7:51; 2Rs 16:8; 18:15; 2Mc 3; Segundo Josefo os mais abastados guardavam suas riquezas no templo devido à segurança que ofereciam, mesmo as viúvas e os órfãos guardavam sua poupança no templo 2Mc 3:10; Ne 12:44; 13:5ss; O templo de Jerusalém possuía 7 grandes cofres de coleta: 1) para o imposto da didracma; 2) para os sacrifícios diários; 3) para o excesso dos tributos anuais; 4) para as sobras dos sacrifícios diários; 5) fundo de administração da farinha, vinho e óleo; 6) fundo de construção do Templo; 7) para o Tesouro do Templo; è provável que também concedesse empréstimos à Juros, pois Josefo afirma que assim que os zelotas tomam a cidade em 66 d.C. imediatamente queimam os arquivos do templo para eliminar as provas de sua dívida. O Serviço de Imposto de Renda e Regulação da Economia estavam ligados direta ou indiretamente ao Templo. (SALES, E – Ideologia Política no Antigo Testamento, CETAD – 2009).

Uma leitura cuidadosa dos profetas permite situar o Templo a partir da perspectiva do povo. No profeta Oséias, os sacerdotes desejavam o pecado do povo, pois aumentaria a oferta (Os 4:8); no profeta Amós, o templo pertence ao Rei e não a Deus (Am 7:13); em Jeremias o Templo virou covil de ladrões (Jr 7:11) e para esse profeta, como para Isaias, Deus nunca pediu sacrifícios (Jr 7:22; Is 1: 11-15); e por fim o próprio Templo é questionado como casa do Senhor (Is 66:1-3). Essa perspectiva é renovada nos profetas do Exílio com a idéia de um novo templo (Is 6517; segundo o coração do Senhor Jr 31:31; Ez 11:19). Nos apocalipses apócrifos é comum a idéia de um novo Messias e um novo Templo. Essas noções são confirmadas por Jesus que desenvolveu seu ministério fora da opressão do Templo que separava o Sagrado do Profanos condenando os povos de outras nações como Profanos e Impuros. Diante dessa perspectiva Jesus profetizou a destruição do Templo e a reconstrução a partir de sua própria ressurreição (Mc 14:58; Mt 24:1-2).

Mas por que os crentes anseiam pelo Templo? Pelo mesmo motivo que despendem tanta energia e dinheiro com Mega Eventos, com Shows de música Gospel, Congressos e mais congressos, ou seja, por ter-se tornado numa comunidade Eclesiocêntrica (Igreja no Centro). Assim como no Antigo Testamento, as comunidades atuais tem trocado o Senhorio de Cristo pelo Senhorio do Templo. Toda a vida das comunidades que se dizem evangélicas está centraliza no Templo. Se acabarem os cultos e os ritos as comunidades evangélicas atuais morrem. Sua fé, sua liturgia e sua ética estão centralizadas no Templo de forma que, toda divergência do Templo é tida por herética, proscrita e profana, como no judaísmo antigo. Será que a ética de Jesus condiz ou contrapõe essa ética que qualifica o puro e o impuro a partir dos rituais e da legislação Religiosa?

Desde o princípio Jesus assumiu uma ética do Outro, diferente da ética assumida pelo Judaísmo antigo e pela Igreja Atual.

Segundo Brueggemann (1983), o ministério de Jesus foi uma crítica que, como nos profetas, se opõe às estruturas dominadora e busca a libertação do povo. Afirma que, com o perdão (Mc 2:1-11) Jesus liberta Deus das cadeias do Templo, pondo em risco toda sociedade que, naquela época, era organizada a partir do Templo, principalmente os mecanismos de coleta. Confrontou a opressão oculta no Sabath (Mc 3:1-6); e a presença de Jesus para comer com os pecadores (Mc 2:15-17) era uma forte ameaça ao sistema de sacrifícios e às tradições e rituais de purificação. Em sua oposição ao Templo (Mc 11:15-19; Jo 2:18-22) por citações extraídas do profeta Jeremias (Jr 7:11), colocou em risco a doutrina da predestinação baseada na eleição especial de Sião e do Templo. (SALES, E – Ideologia Política no Antigo Testamento, CETAD – 2009).

A ética de Jesus valoriza o Outro acima da Lei (Jo 8); o perdão que deveria ser comprado com sacrifícios no Templo foi substituído pelo perdão gratuito na fé em Jesus; as autoridades foram substituídas pela disposição de uma criança (Mt 18:1-3); Jesus libertou o culto das rixas étnicas e culturais (Jo 4); propôs o “Ide e fazei discípulos” como principal tarefa da Igreja (Mt 28:19); ensinou a superação da justiça legalista como critério para adentrar ao Reino de Deus (Mt 5:20); e o amor ao próximo como resumo da Lei e dos Profetas (Mt 7:12; Mt 22:40). Assim diante dessa ética de Jesus, por que as comunidades que se denominam evangélicas ainda assim continuam seguindo a ética do Templo?

A ética do Templo é uma ética política baseada na profanação do Sagrado pela sua relação com os poderes seculares (O Templo a serviço do Estado). Desde sua criação o Templo de Salomão foi um modelo religioso de manipulações políticas (1Rs 1). Durante a história dos reis de Israel e de Judá o templo serviu aos propósitos do Rei que constituía e depunha os sacerdotes de acordo com seu partido político-religioso. Quando Jerusalém foi governada por Reis Javistas, o sacerdote do templo era Javista, quando foi governada por Reis crentes em Baal, o sacerdote do templo era de Baal. O papel do templo era legitimar a realeza e suas formas de opressão (Am 7:13; Jr 7).

Atualmente muito da ética das comunidades chamadas evangélicas tem contribuído para a profanação do nome de Jesus, usando-o para promoção de campanha política: “Vote em mim porque sou um candidato de Jesus”; “Não vote em fulano porque não é um candidato de Jesus”. Esses argumentos são profundas falácias e manipulações do Sagrado com objetivos eleitoreiros. É uma vergonha que Homens e Mulheres de Deus façam tal profanação de seu nome. Assim, observe a falácia: Será que existe candidato de Jesus? Ou melhor, uma coisa é servir ao Reino de Cristo por meio da Política e outra coisa é usar o serviço ao Reino de Cristo como propaganda eleitoreira. Enfim, a maior prova das falácias são as muitas candidaturas que naufragam revelando que não eram tão de Deus assim, pois se fosse, teriam inevitavelmente ganhado. Como toda demagogia e falácia, falar é fácil!

É uma vergonha que líderes “cristãos” ainda não tenham aprendido de Cristo como tratar seus opositores, pois Cristo até a última hora partilhou seu pão com Judas, foi entregue à cruz e em todas os momentos venceu a violência da cruz pela não violência da fé (René Girard). Cristo não destruiu os diferentes e pecadores, ou os que lhe atacavam, nem ainda os traidores. Quanto mais lhe atacavam, mais misericórdia recebiam.

Por outro lado, numa atitude muito diferente de Cristo, muitos “homens e mulheres de Deus” se põe a demonizar o outro, destruir a integridade moral e social do próximo dizendo que com isso prestam um serviço a Cristo, essa atitude de destruição do outro é classificada na Bíblia como Satânica (Jo 10:10), assim como a utilização do Nome de Deus para fins pessoais (Mt 4:1-11), essa ética é classificada como satânica por ser Anti-Cristo.

Por fim essa ética torcida de comunidades que se chamam evangélicas, que valoriza o templo como instituição de centralização da vida religiosa e propõe a destruição do outro (seja quem for) pela demonização e manipulação do sagrado expressam seu verdadeiro interesse, que não é a propagação do reino de Cristo, mas de seu próprio reino. Ao usar o nome de Deus, pretendendo ser guias de cegos, legislam em causa própria, envergonham o evangelho de Cristo trocando-o pela antiga mensagem do senhorio de Deus executado pela ética do Templo que funciona sob a mão do carrasco opressor.

Que Deus Tenha misericórdia de Nós!

 




4 comentários:

  1. GRANDE ABRAÇO MEU NOBRE AMIGO, IRMÃO E PROFESSOR EDUARDO.

    Sempre te admirei por sua capacidade de mostrar um evamgelho que produz resultado, e mais uma vez deixo meus sinceros votos de parabens.

    A crise é por falta de amor e não por falta de material.

    Lembrando o que disse o mestre. o filho do homem não tem onde reclinar a sua cabeça...isto fala dos eu foco enquanto esteve no mundo...Jesus sempre visou as almas.

    Até mais.
    Claudinei Modesto

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  2. Excelente material, Deus t abençoe

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  3. Edir Macedo faz declaração e confessa que o Templo de Salomão foi inspirado pelo deus da maçonaria o grande arquiteto do universo, ou seja, essa é maior loja maçonica disfarçada de igreja evangélica no Brasil, confira no vídeo http://bit.ly/1zBbVVW "Saiam dela, vocês, povo meu, para que vocês não participem dos seus pecados, para que as pragas que vão cair sobre ela não os atinjam!". Apocalipse 18:4, Atentem para o clamor de Deus.

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