terça-feira, 29 de setembro de 2009

Da Cruz ao Cruzeiro: Teologia da Cruz x Teologia da Prosperidade


     O video acima montado por John Piper sobre Teologia da Prosperidade é muito relevante para nossos dias. A Teologia da prosperidade não é nova, está atuando no Brasil a um bom tempo. Com suas mensagens positivistas e seu conteúdo narcizista tem conquistado adeptos em todas as instituições religiosas principalmente entre pentecostais e neo-pentecostais. Recentemente ouvi uma propaganda que me deixou alarmado: "Um Cruzeiro Teológico". Uma instituição educacional de teologia propôs a seguinte atividade:


"Um Cruzeiro organizado pela agência de turismo Lexus Viagens, o cruzeiro evangélico que acontecerá entre os dias 5 a 9 de abril de 2010 rumo ao nordeste trará um congresso teológico voltado a cerca de 3 mil líderes cristãos. Entre os preletores, os nomes confirmados são: Russel Shedd, Gershon Norel, Adolf Roittman. O evento, aberto ao público em geral, ainda terá apresentações musicais do saxofonista André Paganelli, Rayssa e Ravel e Ministério Nova Jerusalém. Inusitado, diferente e com atuação em diversas frentes, o CIT 2010 apresenta um completo programa de palestras, apresentações musicais e uma central de negócios para exposição de produtos, novidades e grandes lançamentos a bordo do sofisticado navio MSC Orchestra".

Não tenho nada contra cruzeiros, nem contra férias, lazer ou distrações, entretanto quando o centro do evento é a Teologia, algo parece estar errado! A primeira pergunta que faço é se Jesus iria num cruzeiro destes? ou pior, será que Nosso Senhor promoveria ou autorizaria tal empreitada? A grande verdade é que os cristãos, mesmo os "mais cultos", influenciados pela teologia da prosperidade, estão trocando a cruz pelo Cruzeiro; a Igreja pelo Clube; a Conversão pela adesão social; a Fé pela segurança na Tradição Religiosa; o Conhecimento de Deus pelo Conhecimento de Teologia.

Nos próximos artigos apresentarei como a Teologia da Prosperidade está destruindo a visão de Deus. Como elementos relevantes como o Evangelho de Jesus; a Igreja; a Conversão, a Fé e o Conhecimento de Deus estão sendo trocados por similares, por elementos sem valor. Para essa compreensão lançarei mão da reflexão de sociólogos como Jean Baudrillard e Zigmunt Baumann aliados de "Teólogos de Verdade" como Dietrich Bonhoeffer; Juan Luis Segundo; J.Moltmann, Gianni Vattimo; Lutero e outros.

Evangelho da Cruz x Evangelho da Prosperidade

Qual é o centro do Evangelho: a Cruz ou a Salvação? Essa pergunta não é tão simples. Atualmente os crentes colocam o centro do evangelho na Salvação, como se essa existisse sem a Cruz. Essa confusão entre o Centro e o Resultado levou o cristianismo atual a se concentrar no Resultado e esquecer o centro. Assim, a Teologia da Prosperidade encontrou uma Igreja fraca, vazia de seu centro, essa disposição foi um prato cheio para a identificação da Salvação com a Teologia da Prosperidade. O Centro do Evangelho foi substituído pelo Fim.

O Centro do Evangelho: A Cruz de Cristo

Sem dúvida alguma o centro do Evangelho é a Cruz de Cristo. O Objetivo maior do ministério de Cristo foi a Cruz, o teólogo do Novo Testamento Oscar Culmann, em sua obra "Cristo e Política" defende que a principal tentação de Jesus era a negação da Cruz. Desde o começo de seu ministério Satanás tentou desviá-lo da Cruz. O Antigo Testamento aponta várias referências ao ministério sacrificial de Cristo. O teólogo Dietrich Bonhoeffer aponta em Cristo o ministério sacrificial que deveria ser o centro de fé da Igreja, afirma que Cristo deixou o ministério sacrificial como principal característica da Igreja. O teólogo católico Gianni Vattimo aponta a Cruz como modelo para teologia do novo mundo, como teologia que vive a realidade do homem e que através dessa vida une o homem à Deus. De forma mais simples podemos perguntar se existiria evangelho se Jesus não fosse para a Cruz, se a fé haveria se manifestado sem a Cruz, se a igreja existiria sem a Cruz. Só podemos falar de Jesus se for pela Cruz. Sem a Cruz não podemos compreender Jesus. A Cruz ilumina a vida e ministério de Cristo e da Igreja. É pela Cruz que conhecemos a Cristo e pela mesma Cruz que somos conhecidos por Ele.

Não é a lei, nem a ética, nem a salvação, nem as curas, nem a libertação, nem a restauração dos homens o Centro do Evangelho. Jesus não é um curandeiro! Seu ministério principal não é a salvação social ou psicológica ou a restauração da saúde dos homens, mas a Cruz como rompimento com todo pecado enquanto rebeldia e afastamento do homem. De acordo como o NT sempre que Jesus realizava milagres não era visto como Deus, mas apenas como profeta Mt 21:11; Mc 6:15; Lc 7:16; Jo 4:19, e de outra forma, Jesus foi identificado como Deus apenas quando assumiu seu papel entre Deus e os homens pelo perdão Mt 9:1-8; Lc 5:21; conquistado na Cruz Mt 27:54; Rm 1:4; Gl 2:20.

A Salvação conquistada na Cruz não é algo estático. Não é um prêmio ou uma bênção, mas a vida no Reino. A confusão está em identificar a bênção do reino com a Salvação. Para o apóstolo Paulo a benção do Reino era a presença de Cristo Fp 1: 23 Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor. A salvação é estar com Cristo, as bênçãos são conseqüência. Por isso a Salvação não é algo estático, mas principalmente a vida no Reino de Deus com Cristo. Assim, no NT o termo Reino de Deus é usado várias vezes como sinônimo de Salvação. Mt 19:24 E ainda vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus. Mc 9:47 E, se um dos teus olhos te faz tropeçar, arranca-o; é melhor entrares no reino de Deus com um só dos teus olhos do que, tendo os dois seres lançado no inferno; Mc 10:15 Em verdade vos digo: Quem não receber o reino de Deus como uma criança de maneira nenhuma entrará nele. A Salvação envolve uma dinâmica de Vida muito diferente da idéia de Salvação pregada pela teologia da Prosperidade.

Desde o AT a Salvação é manifestada como Reino de Deus. Assim, embora o povo considerasse, a Terra prometida não era o mais importante, mas a presença de Deus Ex 33: 15 Então, lhe disse Moisés: Se a tua presença não vai comigo, não nos faças subir deste lugar. Essa presença também é pregada na mensagem de João Batista quando leva o povo para o Deserto, pois o deserto, na teologia do Antigo Testamento é o local onde tudo começou, onde Deus fez aliança e concerto com o povo Os 2: 14 Portanto, eis que eu a atrairei, e a levarei para o deserto, e lhe falarei ao coração. O reino de Deus é a Salvação desejada no Antigo e Novo Testamento. Nas palavras de Jesus a seus discípulos é a presença de Cristo no Reino a promessa escatológica Mateus 26:29 E digo-vos que, desta hora em diante, não beberei deste fruto da videira, até aquele dia em que o hei de beber, novo, convosco no reino de meu Pai. Quando Jesus fala ao Ladrão da cruz: Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso, o centro é a presença de Cristo e não o paraíso em si.

Essa salvação se manifesta pela fé antropológica (Juan Luis Segundo). Ou seja, uma fé viva, a fé que transforma, que muda a vida, que dá outra direção. Esse é o sentido da cruz, dar nova direção, provar que a direção da lei é fraca, que as obras para salvação são insuficiências, que o ritual e a sabedoria não conseguem enxergar o que está à sua frente, o próprio Deus. A Cruz é a reconstrução do homem para uma nova vida. Não há vida fora da cruz, pois fora da cruz só existe o homem e suas obras.

No AT essa fé é caracterizada pelo termo "arrepender-se", não por abandonar as velhas obras, mas por mudar de vida, a principal característica do pecado no AT é o (Pésha – Rebelião) arrepender não é esquecer e parar com as práticas do passado, mas envolve uma mudança completa de disposição. Para retratar essa realidade os profetas usaram termos como “convertei-vos; Tornai a Deus; Arrependei-vos”. No NT essa fé não é caracterizada pelo termo fé, mas principalmente pelo termo "segue-me". É preciso observar que Jesus e os escritores do NT usa o termo fé de formas diferentes, mas que a fé para a salvação está ligada principalmente ao pecado como rebelião. Assim, os discípulos são taxados de “pouca fé” num sentido diferente do empregado por Jesus quando diz “Segue-me”, nessa expressão Jesus está convocando a fé que luta contra à rebeldia e desafia à uma nova vida. Quando a fé (teórica, confessional e religiosa) é confrontada com a Cruz não possui sentido em si, e torna-se um elemento estranho ao centro do evangelho, mas quando a fé é retratada como a fé viva, direcionadora e transformadora, que combate contra a rebeldia interior (fé antropológica) torna-se uma com a Cruz. A fé só tem sentido diante da Cruz se produzir transformação.

Foi o Apostolo Paulo, quem melhor interpretou a cruz como centro do Evangelho. A Cruz é o centro do evangelho no qual nossa vida está oculta Cl 3:3 porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus.

Teologia da Prosperidade:
Quando o Fim torna-se o Centro.

Como várias outras heresias da pós-modernidade a Teologia da Prosperidade nasceu nos EUA na década de 40 e ganhou relevo em 60 e no Brasil em 1970. Seu principal desenvolvedor é Kenneth Hagin, que foi Batista tradicional, passando para a Assembléia de Deus até 1949, quando tornou-se pregador itinerante. Em 1962 fundou seu próprio ministério. Na década de 70 Hagin e Copeland (discípulo de Hagin) radicalizaram com a doutrina do retorno centuplicado do dízimo (MARIANO R. 1999:152); Hoje são inúmeros pregadores, em quase todas as religiões, dentre os principais neopentecostais estão: Hagin Jr.; R. Schuller; Charles Capps; Benny Hinn; e outros.

A primeira doutrina que Best Seller evangélico foi o livro “Há poder em suas Palavras” (Don Gosset, ed. Vida) Onde são apresentadas as principais doutrinas da teologia da Prosperidade como Confissão positiva, Declaração de direitos; o crente deve decretar; Libertação financeira; Saúde; prosperidade; etc...Tudo isso justificado na Cruz de Cristo. As Benção são direitos adquiridos no Sacrifício de Cristo.

No Brasil várias Igrejas e ministérios tem utilizado essa potente ferramenta como meio de arrecadação financeira. Em geram essa mensagem é encontrada nas igrejas neopentecostais como um todo e muitas igrejas pentecostais, preocupadas com a evasão de crentes para essas denominações, também estão aderindo à esse movimento. Recentemente algumas igrejas Tradicionais também estão usando a teologia da prosperidade.

Teologia da Prosperidade: Principais Chavões Teológicos

“Em ti serão benditas todas as famílias da Terra”

“Nunca vi um justo mendigar o pão”

“Tudo que pedires em meu nome, crendo, recebereis”

“Você é Filho de Deus, por isso Tem o Direito de ser abençoado”

“Você deve Decretar a benção de Deus em sua vida”

“O servo de Deus não deve sofrer”

“Seus inimigos serão confundidos, e você será vitorioso”

“Tudo Coopera para o Bem dos que amam a Deus”

“Trazei os dízimos à casa do Senhor e Ele repreenderá o Devorador”

Teologia da Prosperidade: Principais Bases Teológicas

A lei da Semeadura: Tudo que plantares colherás com abundância.

O Objetivo da Vida é a Felicidade: Tudo coopera para o seu Bem.

O Assunto mais importante da Bíblia é o Dinheiro.

Teologia da Prosperidade: Principais Erros

1 – A Teologia da Prosperidade não é Pentecostal. As principais características do moderno pentecostalismo e também do pentecostalismo bíblico são a entrega total, a desvalorização do mundo em relação à valorização do reino de Deus. A mensagem do pentecostalismo moderno com William Seymour, pastor da Igreja de Rua Azuza, pioneiro do pentecostalismo, estava vazia de valores de prosperidade e revestida de espiritualidade, oração, jejum, buscar o Espírito Santo, oração por cura, aceitação de qualquer pessoa em qualquer estado para viver o evangelho, para pregar a fé. Amado (a) Irmão (ã), peço do fundo do coração que você rejeite esse corpo estranho na Igreja em que você congrega, exija o evangelho autêntico de Cristo.

2 – O Maior problema teológico está na mudança do centro. No envangelho o centro é a cruz, na teologia da prosperidade é a Salvação, as Bênçãos, os dons e dádivas de Deus. Essa mudança de centro faz com que as pessoas se afastem de Cristo e busquem apenas o fim da vida cristã. É o verdadeiro atalho para salvação, um caminho no qual não precisa passar por Cristo. Amado (a) não existem benção, ou cura, ou dádiva que não tenha passado pela Cruz de Cristo. Tudo que recebemos e receberemos deve passar obrigatoriamente pela Cruz. Assim, não aceite que o centro da vida cristã, do evangelho seja mudado, ignore as promessas que apenas usam nosso Salvador como se fosse uma moeda de troca e centralize sua vida em Cristo.

3 – Criação de uma Hermenêutica separada de Cristo. Os textos são interpretados independentes de Jesus. Cristo é a principal chave hermenêutica para interpretação da Bíblia. Assim, quando você ouvir:

“Tudo que pedires receberás” não se esqueça que o mesmo Senhor também disse: “Buscai em primeiro lugar o reino de Deus e a sua Justiça”;

“Por ser filho de Deus você tem o direito”, não se esqueça que Cristo como autêntico Filho de Deus abriu mão do seu direito Fp 2:1-10; que nos ensinou a ser como Ele e que todas as bênçãos que receberemos não possuem valor nenhum diante da Cruz de Cristo que é a maior dádiva de nossas vidas.

“Nunca vi o justo mendigar o Pão”, não se esqueça que Jesus foi o verdadeiro Justo que não mendigou o pão, mas que também não ajuntou riquezas, que não tinha lugar onde pousar a cabeça, que vivia das ofertas do povo e com isso vivia a vontade do Pai.

“Você deve decretar a benção na sua vida” não se esqueça que Jesus diante das tentações não transformou as pedras em pães, antes provou que nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra de Deus.

“O servo de Deus não deve sofrer” lembre-se que nosso Senhor assumiu nosso lugar, viveu, sofreu e nos chamou ao discipulado Mt 10:24-25, dizendo que sofreríamos como Ele, e nos enviou como ovelhas no meio de lobos, e de todos os profetas e mártires do evangelho.

“Tudo coopera para o bem” e não esquecer que o bem é sempre a vontade de Deus e não a nossa, que “o bem” na vida de Jesus Cristo foi a cruz e não a gloria do Reino.

“Trazei os dízimos que o Senhor repreenderá o devorador” não se refere a outro fora de você mesmo. Que no contexto de Malaquias referia-se a um povo distante de Deus que precisava prová-lo para ter certeza de seu amor. Entretanto nós filhos de Deus que confiamos e vivemos seu amor temos a certeza da ação de Deus e a confiança que Ele mudará nosso coração como o de Davi, repreendendo o devorador.

Lembre-se que a Lei da Semeadura foi superada em Cristo. Que as obras perderam seu valor para salvação. E principalmente quão duro é o trabalho do semeador até que receba seu lucro, que muitas vezes não vem.

Que o objetivo da vida do Homem é a Felicidade em Cristo. Toda felicidade sem Cristo é ilusória e passageira, pois nossa vida verdadeira está oculta na Cruz de Cristo, e será revelada na ressurreição.

Por fim que o assunto mais importante da Bíblia não é o dinheiro. O termo “pecado” também aparece milhares de vezes na Bíblia, e nem por isso eu devo sair pecando. O fato de aparecer o dinheiro milhares de vezes na Bíblia é por sua afronta direta à Deus. O Dinheiro é identificado por Jesus como Mamon, como afronta direta à Deus: Não podeis servir a Deus e à Mamon.

Espero sinceramente que Deus te abençoe e ilumine para que nossa vida seja Cristo, para que a certeza de nossa Salvação seja a Cruz de Cristo, e assim, nossa vida que está oculta em Cristo se manifestará naquele dia, no dia em que Nosso Senhor vier e encontrar os seus trabalhando e servindo à seu exemplo e testemunho. Pois quem não aprender a viver com Cristo aqui na terra, dificilmente aprenderá a viver com Ele na ressurreição.

Texto Extraído do Livro : A Teologia da Cruz: Reposta para Crise do Cristianismo Pentecostal; Autor: Eduardo Sales de Lima  ( No prelo).

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