quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O JESUS DO PARAGUAI
Reflexões sobre a Idolatria Evangélica


     Infelizmente o contexto popular brasileiro o nome Paraguai virou sinonimo de pirataria e falsificação. No Paraguai tem de tudo e tudo é pirateado: roupas, sapatos, cd’s, marcas em geral são reproduzidas superficialmente, sem os cuidados exigidos pelos institutos de controle oficiais. A questão que se impõe é sobre a possibilidade de se piratear uma pessoa. Será possível piratear Jesus? Será que Jesus tornou-se uma mercadoria que está sendo adulterada em diversas formas, vendida sem controle e consumida loucamente das formas mais diversas possíveis?
     Essa pirataria possui dois grandes males: Em primeiro lugar, prejudica a marca original, e em segundo lugar, os consumidores finais. Nessa relação, a pirataria parece boa apenas para os contrabandistas. Seguindo nosso raciocínio, o produto adulterado é Jesus, e as adulterações produziram grande desvalorização e desconfiança de seu nome. E Deus? Será que está sendo prejudicado pela pirataria evangélica do nome de Jesus? Será que a pirataria está torcendo o sentido que Deus pretendia passar por meio de seu Filho? E quanto aos consumidores finais, será que estão satisfeitos com as cópias baratas de Jesus? Será que as reproduções superficiais de Jesus têm atendido às expectativas dos consumidores aloprados? E por fim, quem são os contrabandistas e adulteradores do evangelho? Seriam as igreja? Os Líderes religiosos inescrupulosos interessados apenas em lucro fácil?

     Para entender como o “Jesus do Paraguai” afetou a igreja precisamos partir da compreensão da idéia de idolatria e sua relação com a pirataria atual

PIRATARIA: A NOVA FORMA DE IDOLATRIA

     A definição mais ingênua da idolatria é a literal: Idolatria é o culto/serviço a uma divindade/ídolo. Entretanto, como na Pirataria, não existe idolatria onde não há uma marca/culto oficial. O texto de 2Rs 23 testemunha que o Templo de Salomão era um local de diversos deuses e imagens, e não era considerado idolatria, o que aconteceu apenas após a oficialização da religião (2Rs23). Essa definição de idolatria é política, e não contém todo o sentido de Pirataria.
     São os profetas que realmente denunciam a idolatria como pirataria. Os profetas opunham-se ao conchavo representado pelo Rei, Sacerdote e Profeta (Mq 3:11), procuravam defender o povo e denunciar a superficialidade da religião e a futilidade dos reis (Os 5; Am 4; Mq 3; Is 1; Jr 7). Afirmaram que os reis é que estavam em idolatria (Mq 3:11; Os 4-5; Is 1; 66;), pois pirateavam Deus. Para o profeta Idolatria não é o ato de se adorar imagens, mas do ato de criar imagens (cópias superficiais) segundo sua própria vontade (Is 40:19-20; 44:10-17; Jr 10:14; Os 13:2; Hc 2:18;). Nesses textos os profetas não estão criticando o simples ato de se prostrar diante de uma imagem, a questão era maior, referiam-se ao tipo de vida idolatra que levavam. Os reis e a aristocracia praticavam toda sorte de opressão e, quando a situação ficava difícil, corriam para o templo, na esperança de que a “santidade” do templo os guardasse (Pirataria do Templo - Jr 7); praticavam um culto vazio de Deus, ainda que bonito (Pirataria do Culto - Am 5:10ss); viviam a iniqüidade com o ajuntamento solene (Pirataria da Comunhão - Is 1: 10ss), foram condenado pelo profeta Oséias, em seus casamentos com uma prostitua e uma adultera, representando a Idolatria como pirataria do Sagrado. Assim, idolatria avançou da questão literal (Ex 20:3-4) para a compreensão moral da pirataria de Deus.

     Pirataria e Idolatria são a falsificação de Deus para encobrir o desejo de afastamento. Os profetas denunciaram a falsificação de Deus, do culto, do templo e do sacerdócio. O ritual e as leis aparentavam Deus, mas na realidade, ocultavam a perversidade presente no estilo de vida. “Este povo honra-me com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim” (Mat 15:8; Jer 8:8; Mc 7:6).

     Essa tendência Pirata de representar Deus tem repercutido em nossos dias com a Pirataria de Jesus, que foi substituído por uma cópia falsa e barata. Por isso apresento três características que ajudam a revelar a Falsificação de Jesus - O Jesus do Paraguai.

1ª Característica:
O JESUS DO PARAGUAI SÓ FALA O QUE EU QUERO OUVIR

     Uma das principais características é o esvaziamento das palavras de Jesus. O Jesus do Paraguai não fala nada que nos confronte, exorte ou provoque mudança. Isso é tratar Jesus como se fosse uma imagem. A principal correlação está no ato de “ouvir”. Os idolatras realizam suas celebrações a divindades naturais (não-morais) como o deus sol, o deus do trovão, da chuva e do vento, etc... Em todas essas situações o ofertante apresenta seus presentes, faz uma petição e aguarda a resposta da divindade. Na umbanda acontece algo semelhante, o ofertante apresenta seu presente a uma divindade e pede que atenda seus desejos. Nas religiões naturais o culto e os rituais não possuem cobranças de valor moral ou ético por parte das divindades que, geralmente, se limitam a responder sim ou não. Dessa forma, quando um “evangélico” vai à igreja procurando Deus (divindade) e ignora as exigências morais e éticas do evangelho, torna-se um adorador pagão, apresentando uma oferenda de louvor ou dízimos, em troca de bênçãos diversas. Cuidado! Esse produto é pirata e transforma aquele que não ouve Deus em um idolatra. Quando o evangélico vem ao culto e não ouve (atende) a Jesus, trata-o como se fosse uma estátua, essa é a idolatria questionada pelos profetas, a idolatria vivencial. Fala que é de Jesus, mas sua vida testemunha que é adorador de Baal, de Mamon, e outros.

 
2ª Característica:
O JESUS DO PARAGUAI É MELHOR E MAIS BARATO.

     Muitos evangélicos defendem que são melhores porque o Jesus que crêem não está mais na cruz, que já sofreu tudo, e que podemos viver um evangelho de graça, sem dificuldades e problemas. Cuidado, pois se trata de Produto Pirata! O Jesus que não está mais na cruz, com certeza não está no meio da grande profanação que se tornou a maioria dos cultos evangélicos. É uma vergonha dizer que se conhece Jesus e afirmar que o objetivo maior da vida cristã é a prosperidade material.
     O Jesus da Bíblia e dos evangelhos se opôs a superficialidade dos rituais, enquanto que o Jesus do Paraguai é profundamente ritualista e sacramental. O Jesus do Paraguai está em todos os cultos para abençoar, pois o culto é o lugar da benção! Essa afirmação é uma profanação da cruz de Cristo e do sentido do evangelho. A pessoa deve cultuar porque já foi abençoada em Cristo e não para receber a graça pela oração sacramental do pastor e pelo poder dos elementos da ceia.
     O Jesus dos evangelhos realizou suas celebrações ao ar-livre, para todos, sem discriminação ou acepção de pessoas. A Ceia do Jesus do Paraguai transformou-se no sacramento da Igreja, ou seja, se a igreja não oficiar da forma correta para as pessoas corretas não tem valor e, novamente profana-se a cruz de Cristo.
     O Jesus dos evangelhos se opôs à ética superficial do judaísmo que coava o mosquito e engolia o camelo. Enquanto que o Jesus do Paraguai é especialista em coar mosquitos. Muitos evangélicos brigam por causa de roupas, brincos, bancos, microfones, músicas, comidas, etc... enquanto engolem os grandes camelos da indiferença, do preconceito, da insensibilidade, da falta de amor e compaixão. Brigam por causa de uma simples árvore de natal e não movem um dedo para evangelizar seu vizinho. Isso é a idolatria produzida pelo Jesus Pirata.
     O “Jesus” do Paraguai pretende atender a todas as necessidades sem nenhuma exigência moral, enquanto que o Jesus da Bíblia tem como principal requisito o ato de abandonar tudo, tomar a cruz e seguir. Para o Jesus do Paraguai tudo é fácil e rápido. Se o Jesus da Bíblia ensinou que o discípulo deve ir para a Cruz, o Jesus do Paraguai afirma que a Cruz é de Ouro, se o Jesus da Bíblia afirma que teremos provações, o Jesus do Paraguai afirma que já não vamos sofrer, pois ele já sofreu tudo, se o Jesus da Bíblia afirma que devemos nascer de novo do Espírito, o Jesus do Paraguai afirma que o Espírito foi derramado e só é preciso falar em línguas estranhas que já nasceu de novo.
     O Jesus do Paraguai prega a graça barata, sem sacrifício, sem dor, sem sofrimento, negando tudo que o Jesus da Bíblia viveu e ensinou.


3ª Característica:
O JESUS DO PARAGUAI: LA GARANTIA SOY YO!

     Por fim, o Jesus do Paraguai só tem um defeito: a garantia. Como todo produto pirata a garantia sempre é duvidosa e depende de quem vende o produto. Assim, os propagandistas do Jesus do Paraguai centralizam seu produto em sua própria imagem. Procuram andar sempre de carrões importados, vestem os melhores ternos, comem nos melhores restaurantes e se hospedam nos mais requintados hotéis. Com isso denunciam a fraqueza de seu produto que depende da imagem deles para ter sucesso. Muito diferente do Jesus da Bíblia, que não depende de imagem humana, que nasceu numa estrebaria, que andou entre os pobres e pecadores, que enfrentou toda a fraqueza e sofrimento da cruz, e em todas essas coisas nos tornou mais que vencedores. Essa é a diferença. O produto do pirata não tem segurança, não tem garantia e depende da imagem pessoal para prosperar, muito diferente do Jesus da Bíblia no qual está toda a segurança e garantia que superam todo tipo de fraqueza humana.
     Diferente do produto pirata, no Jesus dos evangelhos, podemos confiar, certos que nunca falha, e que por fim não nos decepcionará, pois naquele dia, em que o Pai reunir sua Igreja, tenho certeza de que aqueles que procuraram as facilidades de um Jesus Pirata decepcionar-se-ão com a superficialidade do Jesus do Paraguai e com a dura pena aplicada a todos que praticam a pirataria, mas que nesse caso, será cobrada não pelo Leão da Receita Federal, mas pelo Leão da Tribo de Davi!

Que Deus Nos Abençoe!


Nota: Nesse texto o termo “Paraguai” não possui cunho etnico, sendo utilizado de acordo com a cultura brasileira que, a partir da experiência dos vendedores ambulantes de artigos falsificados (Piratas), banaliza os produtos do Paraguai.

2 comentários:

  1. A paz do Senhor!!

    Muito importante essa reflexão sobre o Jesus Pirata que está sendo pregado nos nossos dias.
    A facilidade de se viver um evangelho sem compromisso com Jesus e sem mudança de vida tem formado uma grande multidão de pessoas que levam um vida superficial e vazia, crentes que aprenderam a determinar e receber toda sorte de bençãos sem precisar mover um dedo para isso, No máximo sair de suas casas e ir até o templo para receber a sua vitória.
    Pouco se aprende do verdadeiro Jesus que é manso e humilde de coração, Pouco se aprende sobre carregar a Cruz e viver uma vida de renúncia, Pouco se aprende sobre o Evangelho que nos confronta a mudar de Vida e fazer as mesmas obras de Cristo, na verdade pouco se aprende e pouco se vive do Verdadeiro Jesus Cristo.
    Os resultados dessa pirataria são visíveis em nosso meio, Felizmente o produto pirata tem suas complicações, com o tempo apresenta defeitos e falhas e tem que ser descartado porque nao tem garantia.

    As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem;
    João 10:27

    Paz e Graça a Todos!!

    Irmão Marcos Tortola
    Ministério Apostólico Restaurando Vidas
    Jd. Liberdade Maringá-Pr

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  2. Excelente ilustração professor...
    Parabéns...
    O que mais acontece realmente nas igrejas
    de hoje em dia é a venda barata e superficial
    de Cristo, sem dizer que muitos que se intitulam
    evangélicos ao ponto de dar luz à prosperidade
    através de Cristo.
    Veja, não estou criticando a prosperidade,mas, o que me deixa consternado é o fato de que muitos líderes "religiosos" estão vendendo o "Jesus do Paraguai", com a garantia de que terão o que quiserem se entregarem a vida à Cristo,não deixando de lado é claro, as ofertas e o tão polêmico "dízimo"(lei da semeadura).
    Dessa forma, como já vimos em outras explanações, acabamos por idolatrar "o homem" com suas roupas, carros, hotéis e o conforto de ter uma vida "abençoada" por Deus, dando crédito ao Jesus do Paraguai, que não tem a cruz como mérito e sim os "desejos da carne".
    São burgueses capitalistas, intitulados evangélicos que oprimem o "povo", a respeito da teologia da prosperidade, vendendo o produto paraguaio muito barato.
    Que não vêem salvação pela cruz, e sim uma poupança rica de "bênçãos cristãs".
    Deus abençoe a todos.

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